Críticas de imprensa
«A narrativa chega-nos em analepse, pelos papéis deixados por Daniel, entregues por uma figura feminina ao narrador. A escrita faz-se de um elegante equilíbrio, como a própria música, evocada e pano de fundo à história, construção simbólica de uma harmonia inesperadamente oculta pelo meio das agruras infernais que habitam todo o cenário. Os capítulos surgem intercalados com notas – reais – sobre procedimentos banais do campo de concentração, reflexos da gestão corrente como eram tratados os seres humanos que perdiam rapidamente essa condição, junto homens como “o comandante Sauckel, aquele gigante sádico e refinado, [que] queria plantar gladíolos e camélias”. O delicado paradoxo mantido entre a brutalidade e a fome que perfazem o quotidiano de Daniel e a elegância com que evoca as peças do violino, a técnica da sua construção, o perfeccionismo do seu empenho ou a beleza da música que poderá dele nascer são amplamente metafóricas de todo o contexto onde se desenvolveu a prática da crueldade ainda hoje incompreensível.»
João Morales
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